fevereiro 06, 2012

Infância



Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras.
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala - nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.

Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu...Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro...que fundo!

Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.

Carlos Drummond de Andrade


2 comentários:

Joana Madeira disse...

Adoro esse poeta, escreve coisas tão bonitas... E este poema não é excepção. Beijinho :)*

Anônimo disse...

Olá amigos. Também sou apaixonado por poemas, poesias e afins. Gostaria muito que dessem uma passadinha em nosso blog (www.leituraquaseobrigatoria.blogspot.com). Dedico mais à música, poemas, textos de autores mineiros (mas encontramos tbm outras regiões. Deixem um comentário.
Parabéns e grande abraço.
Anderson